O cantor e compositor Paulo Beto quebra um hiato de dois anos abrindo caminho para seu segundo álbum de estúdio. Após a estreia “Memórias d’Aldeia do Bicho que Mente” (2015) e um registro ao vivo lançado em 2019, o artista fluminense faz uma dançante reflexão sobre as origens da nossa alma latinoamericana, da invasão que tentou matar nossas línguas e culturas até aquilo que nos mantém conectados com nossos antepassados – a dança, o Carnaval, os povos originários ainda resistindo ao seu apagamento sistemático. O single “Isso Não É Brasil” é o primeiro gostinho do álbum “Uniram-se”, a ser lançado em breve.
Ouça “Isso não é Brasil”: https://ffm.to/5eppa56
A canção dá a importância histórica à linguagem. Ao mesmo tempo que saúda o Tupi, a letra questiona o uso do termo “latinoamericano”, uma denominação que exalta não apenas o navegador italiano Américo Vespúcio, como também a origem latina dos colonizadores, deixando de lado a herança de quem já ocupava a Terra Brasilis quando eles chegaram.
“Exaltamos – por influência espirito-semântico-linguística – a latinidade como uma definidora e potente característica que nos diferenciaria positivamente, como algo que nos orgulhamos de ser, sem perceber que assim, estamos, enquanto colonizados exaltando os colonizadores, e pior, querendo nos vestir com seus atributos. ‘Isso não é Brasil’ suscita o problema da linguagem, tanto no que tange a sua incapacidade de dimensionar a natureza dos fenômenos como em sua instrumentalização a forjar e fazer prevalecer a narrativa dos vencedores”, resume Paulo Beto.
A composição mescla tons de música brasileira com elementos eletrônicos, unindo a guitarra de Augusto Feres, o trombone de Flavin Raggaman, samples, sintetizadores, beats e guitarra de Gilber T, saxofones de Lincoln Marques, baixo de PH Rocha e uma vasta gama percussiva de Reppolho, com congas, chocalho, caxixi, surdo, repique e outros. Tudo isso para criar um caldeirão sonoro que por vezes soa ruidoso como uma banda de rock, e outras desemboca no axé baiano. “Isso Não É Brasil” torna-se uma impactante declaração do que é, de fato, o nosso país: uma grande colcha de retalhos musical e cultural.
“A língua que criamos nos cria, e desta maneira, vamos sendo lapidados a nos adequar a ela, a caber naquilo que cabe nela. Meditar acerca deste paradigma, apontando pra uma prevalência da expressão íntima de nossa natureza, como o canto, a dança, a música, sobre as tentativas da linguagem de algemar o espírito, de ludibriar o ser, impedindo-o de realizar-se. Por mais que a Civilização Ocidental logre exterminar a essência do ser, ela permanece, nos povos originários, no DNA, no toque do atabaque, nos ícaros sagrados”, completa ele sobre a intenção da canção.
Paulo Beto é natural de Niterói (RJ) e estreou como cantor e compositor com o álbum “Memórias d’aldeia do bicho que mente” em 2015, cujo show de lançamento originou o disco “Paulo Beto e Convidados – Ao vivo – no Teatro Municipal de Niterói”, e que o levou a realizar turnês pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Em 2018 lançou o segundo registro dos palcos, “Paulo Beto – ao vivo – em Santa Teresa”, gravado no Parque das Ruínas, no Rio de Janeiro. Atualmente, sua busca tem-se feito no encontro de toda e qualquer manifestação artística, passando por teatro, poesia e artes plásticas. Além de músico, cantor e compositor, é escritor, dramaturgo e filósofo de formação.
O álbum “Uniram-se” tem lançamento previsto ainda para este ano. Enquanto isso, é possível ouvir “Isso Não É Brasil” nas principais plataformas de música.
Comments
0 comments