in

Elisa Fernandes concretiza em álbum carreira de quase uma década nos palcos

Artista carioca é afilhada musical de Monarco da Portela e usa o samba nas entrelinhas do projeto guiado pela MPB

Herdeiro afetivo de qualquer artista, o primeiro CD é algo que pode levar bem mais tempo que uma gestação para ser finalizado e gerado para apreciação do grande público.

E a MPB acaba de ganhar um filho que já nasce mimado por sua criadora, a cantora e compositora Elisa Fernandes, que lança o primeiro álbum da carreira nesta sexta-feira, 23, emocionada como uma mãe de primeira viagem.

– Lançar um álbum autoral me parece mesmo algo como colocar um filho no mundo. Todas as minhas atenções se voltam pra esse novo ser que vai nascer e ter a vida que tiver de ter, independentemente das minhas expectativas. Ele vai ser livre, pra viver como quiser e ser ouvido por quem quiser – compara.

“ELISA” surge após uma longa caminhada de oito anos desde que a artista se descobriu compositora. O talento foi sendo lapidado, inicialmente, em saraus espalhados de Norte a Sul do Rio de Janeiro. Foi em território carioca, onde a cantora mora desde 1983, que ela também fundou o coletivo de compositores Nós de Cabrália, através do qual se descobriu cantora e passou a cantar suas histórias pelos mais variados palcos da cidade.

Lançamento adiado pela Covid-19

Afilhada musical de Monarco, sambista e líder da Velha Guarda da Portela, Elisa cresceu frequentando as quadras das escolas de samba do Rio. No primeiro disco, no entanto, o samba aparece nas entrelinhas do produto fonográfico, deixando o gênero que faz ferver as rodas para um outro momento da carreira.

“ELISA” é um disco de pura MPB, feito para tocar amantes do gênero. Entre as referências da artista estão Chico Buarque, Angela Ro Ro, Gilberto Gil, Sandra de Sá, Chico César, Paulinho da Viola e Vander Lee, para citar alguns, além do padrinho Monarco.

Inicialmente, Elisa planejava lançar o projeto em março deste ano, mas a pandemia causada pelo coronavírus atrasou planos por todo o mundo, e a cantora e compositora preferiu deixar o disco em quarentena até agora.

Por acreditar que a vacina ainda está longe de chegar, resolveu mudar novamente a estratégia e retomar os planos, querendo trazer um pouco de alívio em tempos tão difíceis. Por isso, agora faz do CD, mesmo sem um antídoto para o vírus, a injeção de ânimo que faltava para o público que a acompanha e para ela mesma:

– Além de não saber bem o momento ideal para lançar, eu tinha uma preocupação grande se o trabalho seria apenas mais um disco de MPB falando de amor e se seria ouvido num momento como esse que estamos vivendo. Mas tô falando do meu jeito de amar, que é o jeito de amar de muitas mulheres que amam outras mulheres, e decidi bancar o amor, o amor lésbico, principalmente em tempos de tanto ódio, tanta dor e sofrimento. Então taí!

Prestes a ver o projeto ganhar vida pública, Elisa faz uma rápida visita ao passado.

– Cresci ouvindo muito pagode, muito samba e muita música brasileira, muito por influência da minha mãe, que criou a mim e meus irmãos sem a presença de um pai, como grande parte das mulheres do nosso país. Mas em casa a gente podia ficar sem ter o que comer, mas sem música a gente não ficava. Então eu comecei a ter contato com a música pelo gosto dela e fui formando o meu com o tempo.

Concurso de poesia inspirou lado compositora

Foi aos 28 anos que Elisa começou a se apresentar cantando suas músicas profissionalmente. Hoje, aos 37, não esquece das influências da infância.

– Sempre cantei com a minha irmã gêmea em casa, quando criança. A gente adorava imitar o Quarteto em Cy, por exemplo. Era muito gostoso brincar com as nossas vozes, que são muito parecidas até hoje. Eu também adorava imitar os intérpretes das escolas de samba. Gostava de pensar que cantava igual ao Jamelão (risos), gostava de batucar, sempre fui muito musical.  Mas comecei a escrever mesmo por conta de um concurso de poesia que aconteceu na escola municipal que eu estudava na Praça Seca (Zona Norte do Rio), onde morava na época e onde minha família mora até hoje – diz.

Gratidão: Neta coruja, Elisa dedica álbum à avó materna

O álbum, que reúne oito faixas inéditas, Elisa dedica à Vó Mimi, apelido de Dona Maria Emília (91 anos), que foi quem matriculou a neta, ainda criança, nas aulas de violão.

– Minha vó sempre me incentivou a tocar. Com uns 10 anos, comecei a fazer aulas com um professor vizinho, mas não durou um verão. As aulas eram aos sábados e sábado era dia de praia lá em casa. Mas a semente foi plantada ali – confessa.

Sem shows presenciais de lançamento marcados, respeitando o isolamento social, “ELISA” chega cem por cento digital.

São oito músicas que tiveram produção musical, arranjos, bandolim e violões de Mário Wamser (exceto “Voltei”, com violão de Matheus Prevot), violoncelos de Federico Puppi e bateria de Gabriel Barreto.

Com preparação vocal de Suely Mesquita, o álbum foi gravado nos Estúdios Ouvido em Pé e MiniStereo. A foto de capa é de Alice Venturi.

Algumas faixas já foram apresentadas em plataformas digitais e reúnem, até aqui, quase um milhão de audições. A partir de agora, o público poderá conhecer o trabalho completo.

Ouça “ELISA”: http://sl.onerpm.com/elisa 

Crédito: Paulinho Thomaz/Muitamídia

Ficha técnica:

Produção, arranjos, bandolim e violões (exceto “Voltei”, com violão de Matheus Prevot): Mário Wamser

Violoncelo: Federico Puppi

Bateria: Gabriel Barreto

Preparação vocal: Suely Mesquita

Gravação nos Estúdios Ouvido em Pé e MiniStério

Tracklist:

1. Orquestra (Elisa Fernandes)

2. Paiol (Elisa Fernandes)

3. Sinais (Elisa Fernandes)

4. Roseira (Elisa Fernandes)

5. Muro (Elisa Fernandes)

6. Sem Saída (Elisa Fernandes)

7. Voltei (Elisa Fernandes e Matheus Prevot)

8. Outra Vez (Elisa Fernandes)

Gostou? Avalie! Sua avaliação nos ajuda a melhorar o conteúdo.

0 points
Upvote Downvote

Por

Comentários

Deixe uma resposta

Loading…

0

Comments

0 comments

VEDOVÍ canta a irracionalidade do preconceito em “Maiores Rivais”

Klüber busca aproximar as pessoas em meio à solidão em instigante registro ao vivo