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Baby do Brasil

Biografia escrita por João Rossi

Baby nasceu Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, em 18 de julho de 1952. Começou a cantar e tocar violão ainda na infância, chegando a vencer um festival de música em Niterói aos 14 anos, no qual interpretou uma música do maestro Eduardo Lages.

Filha única do jurista Luís Carlos Cidade e da jornalista Carmem Menna Barreto, a garota de classe média carioca fugiu de casa no seu 17º aniversário para se tornar uma estrela. Recebeu “o chamado” e junto com uma amiga saiu na calada da noite para o que desse e viesse, com destino a Salvador, na Bahia, pra se aventurar pelo mundo, sem pensar em moradia ou estabilidade. Ao chegar na Bahia, viveu nas ruas e acabou por conhecer seus futuros parceiros da música: Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão… os Novos Baianos!

 


Baby com os Novos Baianos

Era o ano de 1969 e Caetano Veloso e Gilberto Gil faziam seu show de despedida do Brasil, o “Barra 69”. Baby entrou burlando a fila e, no palco, um guitarrista lindo de 17 anos arrepiava na guitarra. Era Pepeu Gomes que já dedilhava muito bem o instrumento e arrancava suspiros da menina fugida. Baby relata que ficou tão fascinada que atirou um relógio de pulso que usava naquela noite para o palco. Não se contentando, no final do show foi para a casa de Caetano e Gil e conseguiu se aproximar de Pepeu, dando-lhe um beijo surpresa na boca.

Paulinho e Galvão já faziam música, assim como Moraes, mas Baby nem cantava. A convite de seus parceiros fizeram um show de estreia chamado “O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal”, no Teatro Vila Velha. Baby não cantou, foi atriz. Encontrou com Pepeu novamente, que era o guitarrista do show, e começaram um namoro. Morou, aproximadamente, debaixo da Ponte de Piatã. Pepeu teve que ir para o Rio de Janeiro, a pedido de Gal Costa. Baby acabou voltando também para o Rio, depois de um tempo. Moraes, Pepeu e Paulinho também migraram para o Rio.

Baby, numa visita aos companheiros, começa a se integrar. Moraes, tocando violão, pergunta para Baby se ela canta. Quando ela começa a cantar, Moraes se surpreende e a compara com Janis Joplin, que Baby nem conhecia. Recebe o convite para ser integrante da banda, já que eles estavam à procura de uma cantora. Eles fechariam contrato com uma gravadora na manhã seguinte, mas Baby não queria ser conhecida como Bernadete. Após voltar do banheiro, Moraes começa a cantar: “Baby Consuelo, sim. Por que não?”, do filme “Meteorango Kid, Herói Intergaláctico”, do diretor André Luis Oliveira. Baby abre a porta e grita: “Meu nome é Baby!” Baby era fã de Brigitte Bardot [na época, era a única mulher com bocão] e adorava o uso do “BB”.

Nesse meio tempo, Baby participou de três filmes como atriz: “Caveira, my friend”, “O’ Cangaceiro” e “Gênesis 2000”, este último dirigido por Luiz Galvão e com a participação de Caetano Veloso.

Os Novos Baianos resolveram morar todos juntos, pois tinham aquela característica nômade. No Rio, eles não tinham família. Alugaram um apartamento no Jardim Botânico – aquele em que Baby decidiu trocar de nome – e, quando Baby foi encontrá-los, eles começaram a fazer músicas para ela. Depois de assinar o contrato com a gravadora, mudaram-se para São Paulo. Gravaram o primeiro compacto e depois o primeiro disco, “É Ferro na Boneca” (1970), pela gravadora RGE Fermata. Baby participou muito pouco do primeiro disco, principalmente nos vocais de algumas músicas. Embora tivesse uma faixa exclusiva no disco, sua participação foi muito pequena. O disco ainda teve uma música em sua homenagem. “Baby Consuelo” é cantada por Moraes Moreira e tem os vocais da homenageada.

O grupo participou do Festival de Música Brasileira da TV Record e lançaram a primeira música de trabalho (De Vera), porém a música não foi premiada. O trabalho e a divulgação colocou a banda na mídia nacional.

 


Baby no sítio com os Novos Baianos

Pouco tempo depois, a banda se muda para um sítio em Jacarepaguá, bairro do Rio de Janeiro, laboratório para criação daquele que viria a ser o LP de maior sucesso da banda. O disco influenciado pela presença do cantor João Gilberto, “Acabou Chorare”, foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil como “o maior álbum de música brasileira de todos os tempos”. Nomeado “Cantinho do Vovô”, o sítio levou o aumento da família nova baiana, tendo como outros integrantes os cônjuges dos Novos Baianos, os filhos que iam nascendo e grandes nomes como Bola Morais, Gato Félix, a família Gomes (Jorginho e Didi), Charles Negrita etc. E foi nesse cenário que Baby e Pepeu tiveram seus primeiros filhos, as meninas Riroca (1973), Zabelê (1975) e Nãnashara (1976). Sítio este que é propriedade atual de Moraes Moreira.

Em 1974, Moraes Moreira saiu do grupo e os Novos Baianos seguiram sem um dos seus principais integrantes. Moraes alegou ao grupo que começou a ter filhos e pensou na responsabilidade e no futuro que poderia oferecer a eles, por isso resolveu sair (ele já era casado e tinha o filho Davi Moraes, que hoje também é músico). E foi com a saída de Moraes que Baby ganhou destaque, pois ela e Paulinho dividiram a maior parte dos vocais na banda.

Baby e Pepeu permaneceram no grupo até 1978, quando foi decidido que cada um iniciaria sua carreira solo, após dez anos de convivência com o grupo, unidos na música e no futebol.

 


Baby em carreira solo, cantando “Ziriguidum”
O primeiro disco solo de Baby, “O que vier eu traço” saiu em 1978. O título é uma homenagem a cantora de chorinho Ademilde Fonseca, uma das principais influências de Baby. A faixa de trabalho, de mesmo nome do disco, é uma regravação de um dos sucessos de Ademilde. O disco ainda teve a participação de Moraes e Pepeu nas composições, tendo como destaque a apresentada “Eu sou Baby Consuelo”.

No final dos anos 70 e início dos anos 80, nasceram os outros filhos de Baby. Desta vez, apenas meninos. Pepeu e Baby queriam tanto um filho homem que, quando este chegou, Pepeu quis colocar seu nome de batismo, que é Pedro. Baby, com ciúmes, não deixou por menos e quis colocar o dela também. Pedro Baby nasceu em 1978. Como vieram mais dois filhos, Baby não quis fazer diferença e colocou o nome de seus filhos acrescidos de seu nome também. Krishna Baby nasceu em 1984 e Kriptus Rá Baby nasceu em 1985.

Ensaio da capa do disco "Pra Enlouquecer!"
Ensaio da capa do disco “Pra Enlouquecer!”

O segundo disco solo de Baby foi lançado em 1979. “Pra Enlouquecer!” levou a uma das capas mais fofas de toda a carreira de Baby. Num momento mãezona, Baby segurava Pedro no colo e, sentadas no chão, estavam Riroca, Nãnashara e Zabelê. O disco teve a música “Menino do Rio” como destaque e tema da novela Água Viva, da Rede Globo. A música foi feita e presenteada por Caetano Veloso.

Em 1980, Baby e Pepeu se apresentaram no Festival de Música de Montreux, na Suíça. Cada um gravou seu disco solo e, como de costume, Pepeu participou do disco da Baby tocando instrumentos. “Baby Consuelo Ao Vivo” fez um sucesso com a nova versão de “Brasileirinho”, já regravada na época dos Novos Baianos. A música “Eu e a brisa” também teve sua homenagem na trilha sonora da novela “As Três Marias”.

O quarto disco, “Canceriana Telúrica” (1981), traz um pouco mais aflorado o lado espiritual de Baby na música. O LP conta com a música “Todo dia era dia de índio” (de Jorge Bem), “Telúrica” e “Um auê com você”, sucessos na época.

No ano 1982, Baby participou do Especial “Pirlimpimpim” da Rede Globo, como personagem Emília, a boneca viva do clássico de Monteiro Lobato “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Produzido por Guilherme Arantes, o espetáculo contou também com outros artistas: Moraes Moreira [Visconde de Sabugosa], Zilka Salaberry [Dona Benta], Bebel [Narizinho], Ricardo Graça Mello [Pedrinho], Aretha [Aretha], Agela Ro Ro [Cuca], Jorge Ben [Saci], Zé Ramalho [Profeta], Dona Ivone Lara [Tia Anastácia], Lucia Lins [Rapunzel] e Fábio Jr [Príncipe]. Baby e Pepeu fizeram a música “Emília – a boneca gente” para esse especial. Vale acrescentar que esse foi o primeiro trabalho voltado para o público infantil que Baby assumiu, seguindo por três participações nos discos do grupo infantil A Turma do Balão Mágico.


Baby no Especial “Pirlimpimpim”, como Emília – a boneca gente


Baby e Pepeu com A Turma do Balão Mágico

Ainda em 1982, Baby inicia a moda no Brasil dos cabelos coloridos junto com Pepeu. O casal mais colorido do Brasil se apresentava com visual exótico desde a época dos Novos Baianos, que eram do movimento hippie, mas os cabelos de cores diferentes era algo novo. Também nesse ano Baby gravou “Cósmica”, seu quinto disco solo. Além da faixa título, “Seus Olhos”, “Emília – a boneca gente” e “Pra haver amor entre os homens” foram músicas muito tocadas na época. Inclusive, a última citada é uma homenagem a cantora Elza Soares.

Baby e Pepeu trocaram de gravadora em 1983. Saíram da Warner Music e foram para a Som Livre. Foi em 1984 que Baby gravou “Kryshna Baby”, em Los Angeles. Grávida do quinto filho, Baby e Pepeu foram realizar um sonho de criança, que era conhecer a Disneylândia. Chegando lá, foram barrados e não puderam entrar. O motivo foi que a Disneylândia tinha uma lei, onde ninguém poderia chamar mais a atenção do que os brinquedos do lugar. O visual exótico e os cabelos coloridos do casal impediram que eles realizassem o sonho, porém a situação trouxe muito sucesso para o casal, principalmente com a gravação de “Barrados na Disneylândia”, faixa do disco de Baby que é uma sátira do acontecido. Esse disco também traz a marca do “RÁ!” que, segundo Thomas Green Morton, a palavra era um cumprimento cósmico que significava muitas coisas.

Tanto sucesso do casal não poderia render menos do que uma apresentação do primeiro evento mundial que reuniria grandes nomes do rock. “Rock In Rio” (1985) levou grandes nomes brasileiros para o palco do Rio de Janeiro, como Kid Abelha, Rita Lee, Cazuza e Barão Vermelho, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, etc. Baby se apresenta grávida de Kriptus, com a barriga de fora.


Baby e Pepeu no Rock In Rio

Também em 1985 Baby lança o disco “Sem pecado e sem juízo”, este que foi o mais vendido de toda a sua carreira e a faixa título foi tema da novela “Roque Santeiro”. Baby gravou “Rock das crianças”, uma música com seus filhos. Ela aparece na capa deste disco com o último filho, Kriptus. Está com os cabelos e a aparência de índia, além de uma roupa exótica e talheres entortados por Thomas Green Morton, que viraram um colar.

Baby estudou muito a espiritualidade nos anos 80 e relatava experiências com místicos e exotéricos. Baby também contou em certa ocasião que já presenciou a presença de extraterrestres e que já viu um disco-voador. Foi nessa fase em que Baby deu um tempo na sua carreira e dedicou-se aos estudos aprofundados da matéria ao espírito e procurou o conhecimento.

Após 18 anos casada com Pepeu (desde que ela tinha 17 anos), resolveram se separar. Baby queria se dedicar a espiritualidade e alega que ela e Pepeu “haviam virado irmãos”. Foi aí que ela resolveu dar uma pausa na sua carreira, mesmo com o tamanho sucesso do seu disco atual (na época).

Em 1991 Baby retorna para a Som Livre e grava seu último disco assinado como Baby Consuelo. “Ora Pro Nobis” tem a produção de Nando Chagas (produtor e guitarrista), o segundo marido que Baby teve pelos próximos oito ano seguintes. O disco traz a releitura de “Brasileirinho”, as regravações de “Ave Maria no Morro” (de Erivelto Martins) e “Ave Maria” (De Back e Gounod), embora a música inicial divulgada foi “Planeta Azul”, de sua autoria e já gravada por Xuxa e Mara Maravilha. O disco não fez muito sucesso e Baby deu outra pausa em sua carreira.


Baby em Santiago de Compostela

Por volta de 1994, Baby realizou uma peregrinação à cidade de Santiago de Compostela, na Espanha (o famoso “Caminho de Santiago”). Lançou no ano seguinte o livro “Peregrina… Meu Caminho no Caminho”, que narra sua peregrinação, passando já a adotar o novo nome: Baby do Brasil.


Baby e com o livro “Peregrina… Meu Caminho no Caminho”

A troca do nome, justifica, que se deu porque “Consuelo” não era um nome brasileiro e ela sempre se julgava “do Brasil”. Há boatos de que a escolha pelo novo nome tem a ver com a numerologia.

Separada de Nando Chagas, Baby comemora mais um aniversário da existência da antiga banda (os Novos Baianos) com uma turnê e lançamento de um disco de regravações e inéditas. O encontro foi promovido e solicitado pela cantora Marisa Monte. O disco duplo saiu em 1997, intitulado “Infinito Circular”. Em paralelo, no mesmo ano, Baby lança seu primeiro disco como Baby do Brasil, batizado como “Um”. O disco traz este nome por ser o primeiro com o novo nome e por ser uma faixa do mesmo e vem com um estilo pop, além de músicas falando sobre sexo. A música de trabalho, “Baby Toque”, fez parte da trilha sonora da novela “A Indomada”. Importante falar que o disco foi produzido pelo americano De Haris e traz os vocais de suas filhas Sarah Sheeva, Nãna Shara e Zabelê, que já treinavam para mais tarde assumir o grupo SNZ. A década de 90 foi regada a mais participações em trilhas de novelas, televisão e vários especiais.


Baby e as filhas no estúdio das gravações de “Um”

No ano seguinte, sem as filhas e sem os Novos Baianos, Baby lança o seu disco “Acústico” (1998). O disco é uma releitura da MPB, com canções de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Ary Barroso, Bob Marley, Rita Lee, Assis Valente etc.


Baby nua para a capa do single “Ano 2000”


Baby convertida e com visual voltado para o evangélico

Baby entraria a nova década com novas mudanças: virou evangélica da Igreja Sara Nossa Terra, convertendo-se no ano 2000. Fundou o “Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome de Jesus” e passou a denominar-se como “popstora”. Passou a se dedicar a cultos evangélicos, mantendo-se também seu lado secular.

No ano 2000 gravou dois discos: “Exclusivo para Deus”, álbum gospel de produção independente e “Ano 2000”, single que foi comercializado em bancas de jornais, contendo duas faixas de música secular.


Baby em um de seus momentos da fase gospel

Novamente Baby dá uma pausa em sua carreira de estúdio, passando a ministrar a palavra bíblica e fazer pequenos shows e apresentações de música secular, voltando-se mais para a pregação e a música gospel.

Lança seu segundo disco gospel em 2011, “Geração Guerreiros do Apocalipse”, também como produção independente.

À convite do filho Pedro Baby, doze anos depois da pausa dos shows de música secular, retorna com a turnê “Baby Sucessos”, trazendo os sucessos de sua carreira em sua voz e acompanhada de Pedro Baby na guitarra. O retorno fez tanto sucesso que Baby registrou tudo em um DVD ao vivo, o primeiro de sua carreira.


Baby com o filho Pedro Baby na turnê “Baby Sucessos”

Ela é uma das cantoras mais completas do Brasil. Foi a primeira mulher a subir num trio elétrico no carnaval da Bahia ainda nos anos 70, foi de Janis Joplin a Elza Soarez, de Jimi Hendrix a Waldir de Azevedo, do jazz ao samba, da bossa nova ao rock, foi cósmica, foi telúrica e atual convertida. Misturou em seu caldeirão todas as possíveis influências musicais. É uma cantora, escritora, pastora e compositora brasileira. Está em produção o filme documentário “Apopcalipse, segundo Baby”, direção de Rafael Saar, uma cinebiografia da artista.

Discografia

Com os Novos Baianos

É Ferro na Boneca (1970)
Acabou Chorare (1972)
Novos Baianos F.C. (1973)
Novos Baianos (1974)
Vamos Pro Mundo (1974)
Caia na Estrada e Perigas Ver (1976)
Praga de Baiano (1977)
Farol da Barra (1978)
Infinito Circular (1997, ao vivo)

Carreira Solo

O Que Vier Eu Traço (1978) – 400.000 cópias
Pra Enlouquecer (1979) – 1.000.000 cópias
Ao Vivo Em Montreux (1980) – 450.000 cópias
Canceriana Telúrica (1981) – 1.400.000 cópias
Cósmica (1982) – 950.000 cópias
Kryshna Baby (1984) – 700.000 cópias
Sem Pecado E Sem Juí­zo (1985) – 1.100.000 cópias
Ora Pro Nobis (1991) – 250.000 cópias
Um (1997) – 100.000 cópias
Acústico Baby do Brasil (1998) – 150.000 cópias
Exclusivo Para Deus (2000) – 35.000 cópias
Geração Guerreiros do Apocalipse (2011)
Baby Sucessos – A menina ainda dança (2015)

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